Não posso falar por todas as garotas que nasceram no século passado. Então resolvi falar por mim! Passamos nossa juventude tentando arrumar o que achamos feio em nossos corpos, procurando o cara lindo das comédias românticas. Passamos uma vida suspirando e chorando de alegria ou tristeza. Será que passamos?
Existe sempre aquela história, que marca um período. Assim como canções, livros, viagens. Minha geração é muito "imagética". Para demonstrarmos os nossos múltiplos sentimentos recorremos a imagens, muito mais que as palavras. Nesse fim de domingo resolvi fazer algo que sempre fiz, revi uma comédia romântica, daquelas que acabam o filme com um beijo.
Ainda estou tentando compreender o que me motivou a escrever. A princípio, vou me guiar na vontade de colocar para fora o que sempre revolve aqui dentro. Ao contrário das comédias românticas made in Hollywood, a vida é completamente diferente, não estamos predestinados a sermos populares, lindos, líderes. Sim, existe aquele grupo de garotos a garotas que você gostaria de ser. As que são consideradas mais bonitas, aquelas que até os garotos mais velhos olham e desejam. No entanto, como foi o meu caso (e pode continuar sendo) eu fui a menina estranha, que lia paginas e páginas de livros, que conversava com os meninos mais estranhos da sala, que até conseguia ser amiga dos carinhas populares, mas vivia no eterno amor platônico por eles.
Houve um fato inusitado, eu cai no roteiro clichê e me apaixonei por um dos jogadores de vôlei da seleção da escola. Conversávamos bastante, era super estranho. Pois era evidente que eu gostava dele, e ele não se decidia. Concluindo esse trecho do passado, ele disse que não ia rolar! Nesse tempo ele machucou o pé e teve que engessar. Pós um fora, que seria normal eu de coração magoado não falar com ele. Fiz exatamente o oposto... Fui aquela que levou a pasta e o ajudou a subir as escadas pra sala.
Anos se passaram, eu mudei... Reencontrei esse mesmo rapaz em outro contexto em outra situação... Ele me disse num almoço que sempre relembrava a minha atitude e que contava as namoradas sobre aquela menina no ensino médio, que era apaixonada por ele... Qualquer um fica lisonjeado. Eu não!
Foi dai que ganhei o apelido sarcástico de mulher inesquecível. Meu irmão, me chama assim... Como hábito vicioso, eu comecei a divagar no meu texto... O que realmente me motivou, foi rever pela milésima vez o filme: Nunca fui Beijada, nesse meu domingo comum. Acho que estou carente, sentindo falta de uma certa pessoa... No filme a protagonista volta a uma escola e revive a época em que tinha 17 anos. A princípio se enturmar é um problema, depois tudo facilita quando seu irmão se matricula na escola com um propósito diferente e a ajuda.
Entretanto, não é isso que me captura nesse filme, hoje antigo. O que me prende é a história que se desenrola entre ela e o professor de literatura inglesa. Olho para essas mesmas cenas a tanto tempo e ao fim o que sempre fica é a constatação absurda e super delicada:
Sou o tipo de garota que suspira com singelos romances.
Sim, uma constatação pública do meu eu delicado. Creio, que assim como os livros, alguns filmes marcam as metamorfoses sofridas por nós e nossos sentimentos. Mas, será que não colocamos em um cantinho aqueles fatos que acabam por nos revelar para o mundo? Não sou mais criança, mas também não sou adulta. É complicado me enquadrar em algum momento. Fico grande parte do meu tempo livre imersa em algum livro, ou assistindo um desenho animado. Me sinto deslocada nas rodas de conversas filosóficas, tenho imensa desconfiança quando outras pessoas me elogiam. Me acostumei com a coxia da vida.
Esse será mais um daqueles finais de ano. Vou ver alguns filmes da época de ouro do cinema americano, vou ficar triste no natal e ano novo, já que minha família é tão pequenina, e ganhei o estranho toc de verificar se não perco mais ninguém no caminho. O medo da perda é maior que o peso da morte, pois perder algo, ou alguém por falta de contato, de toque ou por escolha de uma das partes. É demasiado doloroso! A morte, ao menos, compreendemos que é um fim e não uma escolha que estanca a felicidade ao outro.
Caminho sobre uma corda bamba, minha mente é frágil as intempéries do dia-a-dia. E me pego querendo coisas tão simples e ao mesmo tempo tão complicadas, que me envergonho do reflexo no espelho que meu olhar delata. Ao mesmo tempo, acho que aguardo como as mocinhas dos romances um ser mágico que me exponha o futuro em um campo de girassóis.
Tudo é tão delicado. O meu ser delicado é o paradoxo dos anti-depressivos e uma comédia romântica. Não sou rosa, sou plúmbea. Mas há momentos que quero diluir essa cor em matizes mais claras.
O filme acaba com um beijo! Mas contém mais que esse significado...
E paro para pensar em todos os beijos que no fundo anseio para que sejam o infindável. Perdi a mão do amor! Mesmo estando amando e crendo em futuros, ainda tenho medo! Pois, passei a querer tantas coisas, que sempre deixei no depósito escuro do meu ser. Não tenho medo dos bichos-papões, sou contrária e tenho medo de fadas.
Engraçado disso tudo é que nadando contra a tempestade e ignorando o que falam por aí, eu me apaixono pelos dias que avançam e não pelo primeiro encontro. São os abraços, crises, declarações vindouras que me fazem confessar meus sentimentos. Espero que de algum modo, apesar de todo drama almodoviano que compõem a minha vida e de todos os diálogos woodyalianos que travo todo dia.
A esperança dessa vez é de poder criar raízes, e que no fim dessa história como a Josie, no filme. Seja eu a pessoa feliz devidamente beijada.
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