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manhã...


Uma manhã comum, onde me dirigia sempre ao mesmo café. Desde que Inês fora embora, não tomo mais café em casa. E religiosamente sigo para uma cafeteria charmosa ao lado de casa. Os garçons já me conhecem, eu sou o homem magro, de olheiras profundas. Ao menos acredito que eles sussurrem entre si essas palavras para alegrar o dia, pondo nomes aos clientes costumeiros.
Meu pedido também nunca muda, basta apenas me sentar que eles vem me servir um croissant com queijo e um expresso duplo. Fico ali, por algumas horas da minha manhã, observando os clientes inusitados e os de sempre. Outra mulher, de meia idade sempre senta a minha frente, tem horas que a visão repugnante do modo como ela come me enjoa ao ponto de me fazer levantar, pagar a conta e ir vagar pelas ruas. Hoje é um dia comum! Ela esta lá, gorda, branca, de rosto vermelho, com o nariz de porco, vestindo sempre um vestido florido, de cores berrantes. Cabelo vermelho desgrenhado, dessas tintas que com o tempo vão ficando alaranjadas. Ela pede muitas coisas, todas gordurosas como ela. Olho pra ela e sempre imagino uma banha dessas que não conseguimos imaginar que possa estar na nossa comida diária.

Sinto falta de Inês!
Inês era linda, esguia, negra, culta... Morou anos e anos fora do país, apesar da juventude carregava dentro de si um reumatismo, uma antiguidade que me confortava. Éramos um casal, nunca fui duplo com ninguém. Mas com ela algo em confortava... Inês foi embora achando que eu não a amava. Crendo que encontrei outra mulher, pois disse a ela que não podia mais sustentar nosso relacionamento e proximidade, Eu não queria mais aquela vida, de dias bons, chantagens em dias ruins, dias bons e brigas. Queria ser livre. Ela chorou e foi embora. No momento que fechava a porta do apartamento e me dava às costas, eu chorava com a perda da mulher que foi paciente e esperou o tempo todo por mim. Ela não sabe que estou doente, o medico disse que é leucemia, mas já em estágio avançado. Dispensei-a assim que comecei a radio, sinto falta dela agora que estou na químio. Do que me adiantava não ser mais o homem viril? E eu não queria que ela olhasse pra mim com compaixão. Prefiro que ela me odeie a me ver assim, um semi-homem.
Ah não! A Gorda se aproxima, ela não vai se sentar ao meu lado. Não, por favor, não. Não quero mais ser simpático com as pessoas.
Ufa! Ela passou. Melhor me levantar e ir ao barbeiro. Preciso dar fim aos cabelos. A cada dia que passo as mãos na cabeça, chumaços pretos ficam em meus dedos. Sei que estou com a cabeça cheia de falhas, preciso assumir que meus cabelos precisam ir embora.
Mas não tenho forças para sair daqui, essa cadeira ganhou garras ou eu que estou mais fraco. Não consigo me mover. Minha vida finda, e eu sinto falta de Inês. Será que esta em Budapeste? Não acho que ela queria ir pra Índia... Onde será que esta a foto dela... Será que perdi? Meus olhos estão ficando pesados. Acho melhor levan...

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