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Mostrando postagens de junho, 2014

Desejos

Estranho deitar a cabeça no travesseiro, e pensar o quanto meu mundo interno está pleno? Hoje um pobre escritor, com algumas taças de vinho e um único pensamento, a vontade furiosa de percorrer os dedos por seus cabelos. Sentir na minha pele, a sua e o sabor do suor, que fica doce quando se está sobre um corpo em um compasso ritmado. Qual será seu sabor? Quando fecho os olhos e vislumbro esse momento, onde nu percorro seu corpo febril, seu cheiro é de canela, misturado na minha língua de vinho. Ocorre o bouquet exótico e selvagem da pertença sem posses.  Fecho os olhos, e tento tecer como seria se isso; esses vislumbres não fossem apenas um olhar desconhecido, que profundamente fita os meus de passagem e parte levando na íris meus desejos mais profundos, meus pensamentos mais luxuriosos. Que sabor terá seu corpo? Será que me deixará provar? Qual sabor terá seu corpo quando estivermos um dentro do outro? Qual sabor...

Sorriso

Sentada em frente ao meu laptop, penso, penso no trajeto da caixa, na escolha do tecido e sim, penso na pessoa que o fez sorrindo. Adoro rosas! É as primeiras que, de certo modo, ganho em anos. São lindas! O intrigante é o que posso tirar desse “presente” que não saíra da minha cabeça, pois fui iniciada no clube seleto, das pessoas que usam chapéus. Assim que coloquei-o na cabeça explodiu em mim uma galáxia de felicidade e principalmente ideias. Ideias, ideias para textos, força para viajar. Creio que devemos ter o mesmo bicho eu e o chapéu. O bicho do transporte, da estrada de se encantar com pequenas Igrejas, rendeiras, as feiras onde tudo se vende, e a freguesa bonita leva uma prova de fruta. Vasculhei, meu chapéu, para ver que magia ele trouxe consigo, vi numa etiquetinha: escutando Gal Costa. Eu estava ouvindo o que é de hábito ouvir, Bethânia. E num momento de reencontro entre elas, irrompia em meus ouvidos – A bruta flor do quer, a bruta flor, bruta flor – Será qu

Serápis

Estarei eu virando uma alcóolatra as escondidas? Não sei ao certo, sei que bebo, direto da garrafa, sem nenhuma etiqueta, saco a rolha e bebo, bebo goles longos, até sentir que meu sangue é mais vinho que sangue e que uma gota escorre no canto da boca. Deveria minha família investir na minha reabilitação, sou altamente venosa para os transeuntes ou para os que convivem comigo. Veja, estão todos doentes, esfarelados, fragmentados. Escolhendo as saídas mais fáceis, as coxas mais definidas, o sexo, no mesmo espaço. Bom ou ruim, amor não existe mesmo. Existe os sentimentos loucos e doentios, deixados como tapas bem dados, que a puta pede dizendo – mais forte, mais forte. O prêmio é a marca, estar marcada como gado, como produto com código de barras. É insensível, não por opção, mas por imposição. Renegada ao vinho, aos comprimidos e ao sono confuso. Sem sonhos, sem nada. Só aquela massa compacta de incertezas e de correntezas que seu Estige impõe. Para que o Olimpo se o mu

O Louco

Isso mesmo. Eu sou esse espírito vagabundo que faz traquinagens para que meu amo fique alegre. PUCK – Sonho de Uma Noite de Verão, Shakespeare. Como se fosse fácil assim, fazer sorrir quem amo. Tento, enfeito de flores os cabelos das ninfas, perfumo com rosas as palavras, me embrenho nos jogos de amor de Oberon e Titânia. No entanto, fazer sorrir meu amor, impossível é. Hoje, já não sei que rosto tem, qual voz emprega se sente saudade de mim. Cada dia que passa, o semblante fica mais disforme, e eu procuro alguém que se encaixe a essas noites de vindouro Inverno. Esperando quem sabe um verão mais delicado, para esse coração maltrapilho. Não se engane, apesar dos olhos tristes, sei fazer multidões sorrir, e sei fazer certos olhares se apaixonarem, pelo primeiro sorriso encantador que surgir. Mas, essa mágica eu não trago para mim, não há romance, encantamento que dure. Sigo, sendo esse espírito. Lembro, lembro, do tempo que minhas traquinagens inofensivas faziam alguns cantar

How It Ends

Simples o cenário, um pequeno jardim de inverno japonês, portas de correr e o barulho incessante da chuva na telha, ritmava com meu silêncio. Eu, Yasuji, último de minha linhagem proibido de dar cabo a minha própria vida, mesmo que minha família tenha caído em desgraça. Era muito honrado morrer, e para mim nenhuma honra. Vivo no esqueleto do que foi um dia uma casa prospera, onde empregados corriam de um lado a outro, onde todas as tradições eram orgulho, onde praticar o kendo e o arco e flecha, me dava status de nobreza. Ainda ouço o murmurar da velha ama, Yasuji você descende do dragão, você nunca deve se rebaixar, nunca deve desonrar seu nome, nunca deve esquecer que o sangue que corre em suas veias é divino. Era tão interessante olhar aquela senhora, que para mim parecia uma tartaruga, de tão velha que era, e mesmo assim tão ágil. Ecos, é apenas o que me resta, ecos dos meus passos, ecos dos meus fantasmas. Não conheci minha mãe, o único retrato que tenho dela é de uma

Oceano Glacial

Chapeleiro, estou sonhando? - diz Alice Pegue mais dois torrões de açúcar - fala o Chapeleiro. Estou caminhando por um oceano congelado, e vejo carpas coloridas nadando abaixo de meus pés. -  diz Alice ignorando o açúcar. É apenas um sonho, vamos ao chá - diz o Chapeleiro Estou atrasado, estou atrasado - retruca o coelho. As taças de vinho, me inebriam. E eu consigo ter meus pequenos momentos de chá e loucura solitária. Percebemos a profundidade da necessidade de contato, quando o nosso único meio de diálogo é um livro. Tentamos desesperadamente nesse mundo líquido, encontrar pessoas extraordinárias para chamar de amigos. Eu quero, poetas, loucos, escritores, chapeleiras.... Minha abordagem não está sendo a mais correta, estou cada dia mais distante da costa, mas profundamente no mar glacial.