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- eu

imagem do filme corpo manifesto

Na meia luz que fica quando a noite chega e me deito para ler, mesmo desatenta tive um irreconhecer de mim. Algumas fantasmagorias e impressões latentes sobre meu corpo bruxuleavam na retina, como marionetes no canto da lente da vida míope.

Há momentos que não gosto dele, o corpo humano. Para mim, ele, parece um excesso, um lençol, ou melhor, uma roupa desarrumaa. Que com o passar dos anos vai criando dobras impossíveis de desfazer.

Hoje em quanto eu lia, olhei para minas mãos, e assustada ocorreu-me que não era minha mão, que era algo encaixado, algo sem pertença e de outros. Olhei naquele instante para a minha mão e de algum modo o ângulo que estava o meu olhar ou a minha mão, desconheci. Vi a mão do meu pai diminuída para se assemelhar com os dedos de minha avó. E, por breves instantes cri observar que eram os dedos de minha avó numa mão reduzida de meu pai. Não me reconheci entre falanges. O estranho começou a chegar nos locais que ocupo, e o primeiro é o corpo.

Levantei!

De frente ao espelho inspeciono, observo, tateio... Nem no tato acho sentido. O de toque é algo alheio que vai mapeando o que não reconheço, e que cria dizer que me personificava. Voltou a memória a frase que me capturou antes que chegasse o final de semana cotidiano: você busca locais, cômodos, espaços para dizer que existe algo seu.

Eu me vi no conforto, e naquele momento me vi crendo que o corpo era meu. Só há uma pessoa no mundo que me faz pensar que estou em mim, tenho um local... E não ter essa pessoa, é viver andando com botas de chumbo.

Mas, a noite sempre chega... a minha chegou e o primeiro estranhamento se materializou... constatei que nem minha mão é minha, mas a junção de pedaços de outros, cromossomos, dna, aproximações... Chame como quiser. A mão que não reconheço como minha, que tateia um corpo que não sinto ser o meu, que olha para o espelho através da dor de cabeça e da lente míope reverbera o estrangeiro.


Quero reconhecer, quero locais - se é que os ocupo – só preciso antes fazer com que a mente que aqui está reconheça algo, que no momento está tão cindido de materialidade, que a pessoa que se olha nessa penumbra não é a pessoa que se faz SER.

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