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3.0




Gostaria de ser tão criativa quanto o poeta Fernando Pessoa, que usou seu heterônimo e conseguiu um belo poema sobre o dia de seus anos. Embora, não consiga ser boa ao escrever sobre o dia que em todos os anos comemoro a chegada desses meus anos, hoje, exclusivamente hoje, acordei e me olhei no espelho de modo atento, perscrutando aquela imagem, que nunca reconheço.
O que é o tempo? Não sei precisar. Sei que quando coloco um minuto no microondas para esquentar qualquer coisa para comer, ele parece desacelerar para assim me irritar e concluir que um minuto é muito para quando estou com fome. Mas, quando esse um minuto significa uma conversa no WhatsApp, coisa que não existia a uns anos atrás, parece que ele passa rápido, nem pisquei os olhos e a mensagem que enviei e aguarda resposta, está lá a mais de um minuto causando o mal de todos nos tempos de hoje: a ansiedade.

Ok! Você dirá que perder a paciência com o minuto do microondas é ansiedade, concordarei. Só que quando esse minuto significa uma conversa com aquela pessoa que você está levemente ou violentamente apaixonado, o minuto vira uma negligência. São tantos minutos, horas, dias e de repente, é o dia do meu aniversário. Me detive no espelho, reparei nas rugas, olheiras, fios brancos, aqueles quilos a mais que incomodam, a vaidade recém adquirida, a crítica ferina aos cravos e espinhas, o espanto!
Sou uma mulher do século passado, sou um millenial, sou exatamente o que? A figura no espelho não tem resposta. Ela imita meus gestos, como aqueles mímicos franceses, que para mim sempre são tristes, sempre em preto e branco, sempre.

Junto com es escrutínio que me impus, procurei outros pensamentos loucos. Pensei que não chegaria a uma nova data, o plano era meio rock and roll com muitas bebidas e drogas, falhei! Não uso drogas, bem as ilícitas, os fármacos receitados eu uso e bastante, caso contrário não saio de dentro do meu quarto. Bebidas, bem... aprendi! Bebo feito gente grande, mesmo com 1,58 de altura. Bate sempre uma crise existencial, pois já não existe a euforia da maior idade, existe as cobranças de vida adulta, os meus mil questionamentos e aquele que sempre lateja: será que sou capaz? Será que não sou uma farsa? Vejo a hora que irão entrar pela minha casa, e como na história do Kafka vou ser julgada por nada, apenas por ser.


Há milhares de sonhos aqui dentro e aqui fora, a milhares de mim aqui dentro e aqui fora. Hoje esses milhares se encararam, e o que lateja é: o que será amanhã?

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