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The Dreamers


 Henri Cartier-Bresson

É simples, o tempo se esvai levando para debaixo da terra, a poeira que o invadia. E são as amplas gavetas do quarto, as amplas gavetas que não podemos acessar, por estarmos boiando, ou melhor, orbitando ao seu redor que acaba por nos afogar, afogar de modo estrangulado. Juncos, raízes e brotos, fazem do tempo à hipotermia de quarenta graus acima de zero. A hipotermia causada pelo suor, que se mistura a poeira nas reentrâncias do seu corpo, que escorre criando uma lama, um momento movediço, uma não adaptação do eu para seu próprio eu-outro.
E o lugar, que lugar é esse que queima a água-viva, que faz sertões e principalmente Tristãos, Ulisses, Romeus, que o transforma em Isoldas, Julietas, que o transforma nas palavras, que perpassa o eu-lírico masculino mais usual, mais pudico e comedido, para o grito espalmado em placas de aço, dela, dela que escreve tremula, que percebe que não escreve, reverbera. Que esta só!
Junto com seu corpo nu, que toca seu corpo nu, espalhando a lama criada pelo corpo dela/dele, pela dualidade dele/dela, são dois amores imaginados. Um o dedo que entra, causando os gemidos o outro que se detém em limpar as lágrimas do rosto. Dedos autônomos e epiléticos, que montam cartografia em papel de pão, que colocam lá um continente estranho, que exclui cidades e países, aproximando outros, misturando oceanos, mares mortos e índicos indícios de desespero.
A maquiagem que nunca usa, borra. É nesse momento o mais tremulo dos seres, a fremência não causada pela pré-foda, mas causada pelo medo os engessam, dor infligida por filhos da puta desconhecidos e queridos. Que causam no ele/ela um tufão de sentimentos, um enxame de vespas a picar os olhos, olhos que saltam e repuxam demonstrando o relógio suíço de suas estranhas engrenagens ensanguentadas.
Os sonhos que saem de seus lábios em gozo são bons, mas que ao vir de local desconhecido são açoites de impotência.
Ele força a entrar, ela geme para sair. Ambos se aprisionam no corpo d’outro, desse outro que se desconhece e se estranha. Que sorri para fingir uma alegria, que utiliza máscaras. Uma coisa disforme de madeira, talhada de modo imperfeito, sulcada, pelo suor e pelas lágrimas, como barro, como areia, mas é madeira, madeira infestada de cupins e outros que a levam a tombar na esquina, essa mesmo, essa escura, onde a puta da o cu sem poder gritar de prazer ou dor.
Ele/Ela são fragmentos de uma guerra fria, de templários fantasmas em cem anos de explosões nucleares.

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