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SoulSick


                                            




Diferentemente da doença, que chega rápido e sem aviso, a cura é mais lenta, pois depende de vários fatores para que ocorra o progresso. Todos temos a potência para comandar o destino. No entanto, preferimos nos deixar levar como uma casca de coco, nas águas do mar. 
Onde tiranmente a lua impõe se será violento ou calmo aquele tempo. Tem sido para todos tempos violentos. A alma se despedaça com maior fragilidade, o mundo de cabeça para baixo e nosso coração uma roda vida. De repente estanca um amor ou uma guerra. E você ou dança ou saca um parabelo e atira, sem ver onde a bala perdida, mas bem achada vai parar. 
O coração da moça é um circo cheio de magia, o do moço uma arena de briga. Mas tem vezes, que um mistura no outro e aí a quadrilha acontece.
Ele e ela naquela dança simples, naquele amô fresco que nem vislumbram o amanhã ou ontem. Só pensam no agora de mãos entrelaçadas e olhares doces.
O ano novo começa, a festa, os brindes os dizeres. A moça ganha o melhor presente,o moço a responsabilidade da vida. Ter que ser dois, para um pois amô é frágil. É flor! Não existe adjetivo pra ele, é a coisa mar'linda para o mundo. Os dois juntos. Dizem que ele coloca valentia no passo vacilante dela e ela coloca mais calma nas escolhas deles.
Só que o mundo, o mundo é doente! Tem muita gente que sofre por querer mais e muitos por querer menos. E é sempre o amô, meio cura meio veneno que alastra pelo povo. Há pessoas quem nem sabem bem o que fazer com ele. De uma simpleza ficou falar "eu te amo"  é de uma complexidade sentir. Ninguém quer senti, dotô. A dor não é coisa pra gente sem letra, só presta pra gente letrada que se sofre de amô, escreve poema, crônica, carta e até se declara de novo pro amô que acabou. Mas consegue por pra fora. Gente pobre não pode chora essa perda, tem que no outro dia acorda cedo e trabalha. Não pode escrever carta, poema, crônica ou declaração de amô, pois não sabe escrever é analfabeto. Não podemos rimar, cantar a dor, dotô! Dançamos, aperreamos e enterramos nosso choro no corpo de outra moça, nos olhos famintos de outro moço. Que com qualquer trago naquela alta hora, onde a alma é mais remendo que pano novo, ambos se encontram. E anônimos se deitam em um colchonete roto, de um quartinho apertado. E se entregam um ao outro, cada qual imaginando onde a dor para e o amô começa. 
Já que no amanhecer, ele terá que sair e ir pra lida, ela terá que voltar a ser a desconhecida, tristonha no canto da birosca de estrada.
Mas nesse momento, da despedida silenciosa, ele lhe segura a mão e promete volta, ela encantada lhe da o que é mais precioso, o coração. E, então dotô, é ou não é uma história mar'linda que tem? O valente se apaixona pela puta, que só virou puta porque em algum momento entregou o seu coração e corpo a outro moço, que dela não queria mais que a pureza, e a singeleza do amô. Manchado sentimento dela fez isso. E ele, valente e pobre ganhador do que seria um amô ordinário, mas sim um verdadeiro amô. 

Esse é o primeiro dia do ano, dotô. Espero que eu tenha voltado a contar histórias, e que elas lhe agradem. Inté depois...


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