Sentada em uma estação de metrô, que descera
por estar nervosa e confusa com seu caminho, ela observa com um olhar alheio os
passantes. Um bebê que berra, uma mulher exageradamente maquiada, um vendedor
de bala nervoso para a chegada da próxima composição – Não é permitido comercio
no metrô, mas todos fazem!
Bastava apenas deixar o suspiro chegar e com
ele o choro de seu desespero emergir. Bastava se entregar ao medo e a ansiedade
que a consumia. Bastava... Mas, para ela não cabia o bastava e principalmente,
não se permitiria sucumbir aos sentimentos estrangeiros que os caminhos
errôneos nos sobrepõe.
De modo despretensioso, ela retira da bolsa o
que a distingue dos outros passantes ou não, da estação. Ela pega seu batom cor
amora e em um movimento preciso que diz ao mundo:
- Não estou perdida.
Ela passa-o nos lábios aquela cor frutada que
diz muito sobre sua personalidade. Pois existe uma intenção que pessoa alguma
pode captar e mulher alguma pode repetir.
Pintar os lábios de um carmesim é um grito
desvozeado que avisa para quem observa o rito:
- Não estou perdida!
Minha pequena vaidade é um lembrete de que o
mundo ao meu redor é concreto, que o próximo vagão que tomar lhe conduzirá ao
seu intento. Me basta esse batom para realinhar as energias que me circundam,
as órbitas dos planetas e ressignificar a minha paz interior.
Aos incautos que acreditam que irei sucumbir
aos estrangeiros sentimentos que me assaltavam antes do batom, me desculpem.
Eles não creem en brujas, pero que las hay, las hay. E eu sou fruto dessa
feitiçaria.
Minha composição se aproxima, já sou outra,
composta e bruja parto.
Meu caminho hay.
Amei demais.
ResponderExcluir