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GEORGINA



Sentada em uma estação de metrô, que descera por estar nervosa e confusa com seu caminho, ela observa com um olhar alheio os passantes. Um bebê que berra, uma mulher exageradamente maquiada, um vendedor de bala nervoso para a chegada da próxima composição – Não é permitido comercio no metrô, mas todos fazem!

Bastava apenas deixar o suspiro chegar e com ele o choro de seu desespero emergir. Bastava se entregar ao medo e a ansiedade que a consumia. Bastava... Mas, para ela não cabia o bastava e principalmente, não se permitiria sucumbir aos sentimentos estrangeiros que os caminhos errôneos nos sobrepõe.

De modo despretensioso, ela retira da bolsa o que a distingue dos outros passantes ou não, da estação. Ela pega seu batom cor amora e em um movimento preciso que diz ao mundo:

- Não estou perdida.

Ela passa-o nos lábios aquela cor frutada que diz muito sobre sua personalidade. Pois existe uma intenção que pessoa alguma pode captar e mulher alguma pode repetir.

Pintar os lábios de um carmesim é um grito desvozeado que avisa para quem observa o rito:

- Não estou perdida!

Minha pequena vaidade é um lembrete de que o mundo ao meu redor é concreto, que o próximo vagão que tomar lhe conduzirá ao seu intento. Me basta esse batom para realinhar as energias que me circundam, as órbitas dos planetas e ressignificar a minha paz interior.

Aos incautos que acreditam que irei sucumbir aos estrangeiros sentimentos que me assaltavam antes do batom, me desculpem. Eles não creem en brujas, pero que las hay, las hay. E eu sou fruto dessa feitiçaria.

Minha composição se aproxima, já sou outra, composta e bruja parto.

Meu caminho hay.

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