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kertés |
Não desligo o computador em meu quarto fazem anos, não entendo porque essa rotina. Não é vicio, não é por estar lá e conversar com quem não posso tocar. Simplesmente é eco.
De uns tempos para cá tenho relembrado mais a gente, dos apelidos trocados e de como tudo mudou. Parece que não existe aquele fascínio de ficar lá me esperando falar, esperando minha próxima vírgula, gargalhada, música. No momento em que saiu por aquele portão, eu comecei a voltar as minhas raízes, escutar meus sambas, arrumar a casa, perfumar, trocar as flores e as roupas de cama, sabia que o próximo a entrar por aquela porta, e entrar na minha vida não seria mais você.
Por que eu tinha tanta certeza? Não sei explicar. Mas carregava o peso comigo, como se carregasse um defunto que me esqueci de enterrar. Viúva de homem vivo é a pior das sinas. Viúva de marinheiro galego ainda mais. Pois sei que não sou a verdadeira, sou apenas mais uma das estradas. A limpinha, de família, falante...
Entretanto ainda me lembro das cordas de aço, e de como minhas costas ficaram marcadas por elas e de como era salgada a água na hora do banho. Por quê? Como bom navegante ainda nos divertíamos no mar.
Ninguém nunca mais cozinhou pra mim! É uma verdade triste, eu cozinho aquilo que aprendi a gostar e que você fazia tão bem. Mas alguém nota? Não... Não sou viúva mais, ou apenas escondi o fato, para não ter a piedade dos que deitam a minha cama.
Entretanto nenhum homem fica! Queria que algum ficasse pelo simples fato de ter em mim boa companhia.
Mas a idéia de eu ser seu violão ou do tamanho dele me persegue como um bicho faminto. Lembra que pôs cravo e mel no meu corpo? Lembra que te enchi de pimenta?
Gosto dos temperos, das especiarias, um dia ainda passo em mim chocolate e terei gatos a lamber o corpo voluptuoso que escondo embaixo desses panos.
Mas ele era de cordas de aço! Brasileira alguma toca nesse ritmo, eu não toco, o meu é ainda do morro, das mulatas. Sou mulata! Apesar de você achar que eu era de outro planeta. E ficar tocando meu cabelo, como se ele fosse de mentira.
Outros tocam hoje em dia. Não sinto falta do seu toque, nem do seu cheiro parece que esqueci. Virou um borrão, assim como todos os outros se confundem. Apesar dos músicos deixarem os estigmas das canções inacabadas, ainda sim não consigo recordar onde foi parar a nossa!
Mas lembro das dos novos que circundam a casa, antes sua.
Não sou mais o que eu era? O que fez comigo?
Antes eu me apaixonava, comedindo palavras, continuo sendo Cyrano para algumas musas, mas nada, nada por enquanto é finito. Nada que eu diga: Quero você e apenas você! Existe sim a possibilidade das paixões, mas me dá medo. Medo de me perder em labirintos sem minotauros e encontrar mesmo assim dentro de mim eles outra vez. Sabe o quão importante para minha força motriz são as palavras em multicor dos amores, aqueles arrebatamentos. Entretanto temo revelar, que assim meio livre, mas receosa tenho mais força para não me apegar a outro alguém que como você pode ir embora.
Acabou amor, não dá mais! Meu amor puro pulou o muro e foi você que permitiu minha fuga.
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